O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824

soldados, mulatos, e dois guardas aduaneiros; mas continuamos ancorados, sendo já escuro demais para prosseguirmos até a cidade.

Pouco a pouco, fazendo-se silêncio, demorei-me no convés para gozar tranquilo das impressões que esta primeira visão do novo mundo me despertava.

A noite estava linda e o calor aliviado pela benfazeja brisa marítima que naquele momento encrespava o mar, prateado pelo clarão do plenilúnio. Inúmeras e novas constelações, num céu desanuviado, espelhavam-se no escuro das ondas: as grandes estrelas do hemisfério sul. Majestosa e solene, erguia-se a Serra do Mar, a cujos pés as vagas iam bater surdamente, pois a imensa e luminosa superfície aquática é cercada por uma cadeia de altas montanhas, cujos picos bizarros ora parecem erguer-se como colunas até o céu ora, sob a miragem do luar, confundem-se com as nuvens, a fechar o horizonte. Num semicírculo anfiteatral, a cidade aparece distante, à beira-mar. Seu casario, iluminado por focos sem conta, produzia aprazível efeito. De quando em vez, subiam foguetes à retaguarda, cujas explosões, iluminando magicamente o cenário um instante, não menos rapidamente se extinguiam. Festivamente, repicavam os sinos até nós — as Ave-Marias — para logo se calarem. Também iam-se apagando as luzes. Um silêncio, cada vez mais profundo, baixou sobre a terra e, como a lua se escondesse atrás das montanhas, recolhi-me logo ao beliche para que minha encantada

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