O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu

Finalmente, as empresas posteriores, inclusive a viagem do italiano Bossi, em 1862, tiveram um resultado mais ou menos trágico.

Por conseguinte, enquanto a descrição feita por Siqueira informa que os Martírios se acham entre o Paranatinga e o Alto Xingu, outras notícias assinalam a região como situada entre o Tapajós e o Paranatinga, sendo que ainda outros a registram próxima a um afluente do Tocantins e, finalmente, próxima ao próprio Araguaia.

A questão torna-se duplamente interessante pela circunstância de que na Província do Pará também voga uma lenda a respeito da colina dos Martírios. Assim, diz Siqueira: "Havia em Pará uma tradição que contava que os jesuítas possuíam grandes minas no interior do sertão. Que significaria a precaução com que justamente esses jesuítas mantinham às margens baixas do Tapajós um armazém, que todos os meses era provido de víveres, sem que jamais os que entravam e os que saíam se encontrassem? Deve-se admitir que os jesuítas procuravam, conseguindo o seu fim, com semelhantes cuidados, guardar o segredo das minas achadas por eles e que, sem dúvida, eram as do monte dos Martírios.

Uma observação de Luís d'Abricourt refere-se novamente ao Xingu: "Entre os sertanistas, conhecedores dos caminhos paraenses, voga a constante tradição de que os jesuítas extraiam do rio Xingu muito ouro."

Hoje em dia, os comerciantes de borracha no Baixo Xingu suspeitam que é às margens do seu afluente Iriri que o ouro deve ser procurado. Os índios contam, com uma certeza que não admite dúvidas, que na foz deste rio apareceram muitos homens (brancos), carregando ouro e tangendo gado. Não obstante, o Iriri e o Xingu, no lugar em que se unem, estão cercados por terreno montanhoso e nenhum dos descendentes das tribos de índios criava gado. É de se notar que, por outro lado, os aborígenes, habitantes do afluente da direita do Tapajós, o Jamanxim, informam que se pode atingir, saindo das margens do seu rio, outro rio muito maior, que em seu curso superior percorre pastagens cheias de gado.

Esta é a lenda dos montes Martírios, que já torturou tantos mato-grossenses e paraenses, na mais ansiosa esperança, sem que nenhum deles conseguisse realizar o seu ideal. Pelo fato de não termos sido mais felizes, como pesarosamente antecipo, quero, voltando à realidade, acentuar a importância do rio Xingu quanto ao comércio e tráfego futuro da Província. Para isso darei a seguir uma pequena visão geral de Mato Grosso.

O Brasil Central. Expedição em 1884 para a exploração do Rio Xingu - Página 44 - Thumb Visualização
Formato
Texto