Prefácio da Autora
Ainda que a ideia de uma eventual publicação não tenha sido estranha à redação deste diário de uma viagem ao Brasil e
de uma estada de muitos meses naquele país, muitas circunstâncias imprevistas forçaram ainda a autora a revê-lo antes de ser entregue ao prelo, bem como a cancelar muitas páginas que fixavam acontecimentos públicos e privados.
Talvez restem ainda demasiadas referências de natureza pessoal, mas o que aí fica dito é, pelo menos, honesto. Se a autora tiver de pagar pessoalmente pela sua sinceridade sofrerá com satisfação.
Talvez só haja de novo no Diário, relativamente aos acontecimentos públicos, a exposição em conjunto de notícias que chegaram isoladas à Europa, e ainda o registro da impressão produzida no local por ocorrências que, de longe, podiam ser apreciadas de maneira diferente. Alguns fatos foram sem dúvida deformados pelas fontes interessadas através das quais chegaram ao público; outros, pela ignorância dos informantes; e a maior parte pelo espírito partidário, que encara sempre, ora com entusiasmo, ora com malevolência, a conquista da liberdade em qualquer parte do globo.
A autora não tem pretensões à perfeita imparcialidade, pois nem sempre esta significa virtude. Mas, sabendo que nenhum bem humano pode ser alcançado sem certa dose de mal, espera ter sempre encarado as questões pelos dois lados, ainda que isto lhe tenha custado bastante esforço na composição.
Tudo que se diz dos naturais do país, ou dos que ficaram a seu serviço, quer permaneçam ainda nos postos, quer não mais estejam no Império, foi escrito sob a impressão do momento. A confiança da autora no bom senso e na justiça do governo e do povo brasileiro é tamanha que ela deixa esses trechos tais e quais os escreveu.