Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

20 - As calmarias longas e cansativas, e as lindas noites enluaradas próximo ao equador foram bastante comentadas e descritas para que já saibamos tudo a respeito delas. Basta mencionar a passagem da linha e o espírito evoca logo um mar que parece interminável, triste e espelhante, velas caídas, um pássaro solitário afundando com o calor, ou um tubarão erguendo-se preguiçosamente para pegar um peixe; na melhor das hipóteses, uma noite calma e quente, com um macio luar de prata brilhando sobre o traiçoeiro abismo, ocultando aos espectadores, que deveriam estar amando, se não estão, os perigos das pedras que possam ocultar-se nas profundezas. Mas nosso belo ideal não era passar a linha: tínhamos brisas frescas de dia, trovoadas e raios à noite; víamos raros pássaros tropicais, e estes muito vigorosos; peixes mais vivos que tubarões, ou mesmo molas, das quais, porém, vimos uma quantidade razoável. Eu já vi uma vez a calmaria tropical, e, na verdade, após experimentar a ambas, prefiro a tempestade de ventos e trovões. Na noite passada tivemos uma, tal como fala Milton:

"Either tropic now

'Gan thunder, and both ends of heav'n the clouds

From many a horrid rift abortive poured

Fierce rain with lightning mixt, water with fire

In rain reconcilid; nor slept the winds

Within their stoney caves, but rush'd abroad

From the four hinges of the world, and fell

On the vext wilderness."