Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823

SEGUNDA VISITA AO BRASIL



Antes de começar o diário de minha segunda visita ao Brasil, do qual estive ausente um ano e três dias, será necessário dar uma curta narrativa dos principais acontecimentos que ocorreram durante este ano e que mudaram o governo do país.

O Príncipe Regente enviara em vão às Cortes as mais prementes representações em favor do Brasil. Nenhuma atenção foi dada aos seus despachos e o governo de Lisboa continuou a legislar para o Brasil como se este fosse uma colônia na costa da África selvagem. Os ministros que tinham servido com Dom João haviam conhecido bastante a terra durante a permanência aqui para se convencerem de que o Brasil, unido, seria, em qualquer tempo, capaz de libertar-se de toda sujeição à mãe-pátria. O objetivo, portanto, passou a ser dividi-lo. Em consequência, delineou-se um esquema para o governo do Brasil pelo qual cada capitania seria governada por uma junta, cujos atos seriam totalmente independentes uma das outras, e responsáveis somente perante as autoridades de Portugal; o Príncipe teve ordem de voltar à Pátria de modo peremptório e o mais inconveniente. Mencionei em meu diário o acolhimento recebido por tais ordens, e a resolução tomada por Sua Alteza Real de ficar no Brasil. Logo que esta resolução foi conhecida nas províncias, choveram mensagens e deputações de todos os lados, de cada cidade e capitania, exceto da cidade da Bahia e da província do Maranhão, que sempre tivera um governo independente do resto do Brasil. Em dezembro de 1821 o Rei nomeou o general Madeira governador da Bahia e comandante das forças. Tomou posse em fevereiro e pouco depois a primeira guerra de