O Brasil literário: História da literatura brasileira

cedo ou tarde perecerá miseravelmente. Os que se aproximam arriscam a vida, porque o mar tranquilo é como uma ebulição em torno. Os pescadores evitam-no, persignam-se e imploram a Deus que os guarde do poder de \"A Nebulosa\".

Dois pescadores em uma noite clara passavam perto deste lugar. Veem, de repente, uma forma humana destacar-se da margem, saltar de pedra em pedra, atingir o ápice da rocha negra e aí ficar contemplando o mar. \"É ele\" gritam os barqueiros, \"é ainda ele\". É o homem que tinha vindo um mês antes à casa deles e quis habitar sua cabana, pagando grande soma de dinheiro. Traz sempre uma harpa e chamam-no de \"Trovador\". O desconhecido não responde a ninguém, esconde-se de todos e oculta o seu nome. Jovem e belo, é no entanto sombrio e impenetrável;seu olhar queima, seu sorriso só exprime o desprezo e a dor. Visita sempre a baía e passa as noites sobre a rocha negra, embora os pescadores houvessem advertido dos perigos de Nebulosa. Procura ocultar uma dor imensa ou um crime terrível, de que não procura consolar-se, mas que ele quer enterrar nas profundidades do mar. Às vezes, nos grandes cataclismos da natureza que ele ama acima de todas as coisas, rompe em imprecações, mas não fala nenhum nome que o eco possa trair. Às vezes, durante as noites tranquilas em que a lua brilha com todo o esplendor, rompe em queixas melancólicas e a harpa parece seus pensamentos. Na noite de que o poeta fala, ele assim exalava sua dor, quando viu uma barca aproximar-se da rocha. Ela revela uma forma vestida de branco, que não aparta os olhos dele e se aproxima cada vez mais. \"Pescador\", disse ele, \"que te fazem minhas queixas e minhas insônias? Minha dor, um segredo que o mundo não saberá jamais! Tua dor é segredo que o mundo não saberá