Ingresias! Corra aqui! - Mais que depressa me transportei para o local da algazarra. Marinheiros e passageiros rodeavam qualquer coisa que estava no tombadilho.
- Com licença! Com licença! Com licença, minha gente! - Fui dizendo, e consegui chegar ao centro do grupo.
- Cuidado, amigo! É uma cobra.
- Cuidado, tenham vocês; não vão dar-me com esses tamboretes na cabeça!
Vi que se tratava de uma cobra não venenosa. Com certa cautela peguei-a com a mão.
- Está louco, moço! Gritavam todos una voce.
- Não estou louco, amigos.
- Deixem, que ele sabe o que está fazendo - gritava o Negrais.
Examinando atentamente a cobra vi que se tratava de um exemplar bonito - negro luzidio no dorso e manchas brancas no ventre. Pertencia ao gênero das Pseudo-boas - gênero em que estão compreendidas as cobras mais inofensivas para o homem. Elas, mesmo provocadas, machucadas, não agridem, ou melhor não sabem defender-se. Disse acima "inofensivas para o homem", porque há espécies que são terríveis para as próprias cobras, e até para as venenosas. Entre as principais podem-se citar: a célebre "Muçurana" - Pseudo-boa coeli - e a "Papa-pinto" - Pseudoboa coralis, muito conhecida no Norte. (O leitor perdoará essa pequena digressão pseudocientífica).
A cobra-preta, como era chamada pelos circunstantes, elegantemente se movia em minhas mãos. Para melhor divertir o meu improvisado auditório, fiz menção de colocá-la nas mãos de quem estava mais perto de mim. Foi uma debandada louca. O que quer dizer que ninguém acreditava em minhas explicações.