Por se opor ao liberalismo, ao constitucionalismo, à Independência, o Conde dos Arcos seria mais tarde demitido do ministério da Marinha, embarcado preso para Portugal, encerrado durante longo tempo na torre de Belém, coagido a justificar-se, processado, injuriado, empobrecido, maltratado, para, depois, por maior prova de confiança, ser nomeado em testamento, pelo soberano a quem com entranhado amor servia, membro da Regência sob a presidência da Infanta Isabel Maria. Ainda na Regência, o liberalismo desferir-lhe-ia os dardos mais envenenados, levando-o depois a acabar os seus dias tristemente, solitário, na pobreza quase franciscana do solar da travessa das Mônicas, perto do vetusto palácio do Salvador, onde nasceu e onde não quis morrer o Conde Vice-Rei.
9 - Serenidade de uma consciência
Tudo isso, porém, o Conde dos Arcos vencia com a serenidade de sua consciência, com a certeza do dever cumprido no leal serviço de Deus e do Rei. Dom Marcos de Noronha e Brito, herdeiro de alta nobreza, não podia diminuir os méritos de sua alta linhagem. Ser nobre significa abnegação, sacrifício, martírio, altruísmo, bondade, correção moral, firmeza, elevação de sentimentos, caridade e energia. Ser nobre é ser santo, porque a nobreza tem como princípio basilar a caridade. Ora, a caridade é a maior de todas as virtudes, logo ser nobre implica, teoricamente, em ser santo; amar a santidade e imitá-la. Ser nobre é conquistar, pelo sofrimento, pela visão do fim último, a posse daquela felicidade inaudita que o mundo