INTRODUÇÃO
Cresci e formei-me num ambiente embebido de admiração pela figura de Ruy. Ligado a ele pelos laços do sangue e da mais profunda e sólida amizade, minha familia ensinou-me a ver nele uma figura sublime e foi-me dito que o ter-lhe gozado a intimidade, brincando ao seu colo, e com ele discutido os contos do João Felpudo seria para mim uma das maiores honras que poderia atingir na vida. Ouvia embevecido dos lábios da minha avó, as narrativas que empolgavam, da mocidade combativa e heroica do "primo Ruy"; meu pai me narrava os dias tenebrosos da perseguição florianista em que ele próprio fora perseguido e em que meu tio penara muitos meses de detenção por solidariedade ao parente no ostracismo; e lia com meus olhos de criança, na imprensa que começava a conhecer, e assistia nas ruas e na aclamação das multidões, a glorificação em vida desse homem que eu conhecia de perto e que me parecia ter atingido ao máximo a que pode aspirar um homem público. Nenhuma verdade me parecia mais estabelecida que a supremacia de Ruy no ambiente brasileiro.
Quando ouvi a primeira finada, partida de um estranho em quem eu julgava invulnerável, estremeci como um eremita que ouvisse uma blasfêmia. E atirei-me