Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

matéria do governo, para assumir todas as responsabilidades com o garbo da inconsciência, sorrindo para a galeria, como, a um olhar de admiração, o elegante que nunca boleou toma as rédeas do cocheiro em um trecho difícil da estrada. Joaquim Manuel de Macedo representava ali o romance, ao lado de Otaviano, Pedro Luiz, Bittencourt Sampaio, que representavam a poesia, e do Visconde de Prados, que representava a ciência."

Opinião que se vem repetindo constantemente é a de que Machado de Assis não se imiscuiu em política, nunca se deixou envolver pelo torvelinho da política. Pois bem. Sua observação a respeito do Senado de 1860, quando ali ia como representante do Diário do Rio, representa lance de vista agudo, que bem define o ambiente que preparava a situação dos novos tempos. Ali se fixam, em traços incisivos, mas atilados, as figuras do Império, cada uma em sua compleição moral, intelectual ou simplesmente decorativa. O feitio de cada senador que dominou o tumulto das lutas partidárias ele o apanha em linhas individuais. Sinimbú surge com a oratória simples e interessante dentro do porte invariável, que não se alterava ante o fragor da luta. E explica-lhe a sobranceria diante de uma assuada da multidão. Esta rompia-se em gritos. Ouro-Preto, junto de Sinimbú, encarava-a com ar de desafio. Sinimbú, este parecia mostrar ao colega um trecho de muro, indiferente.

O Senado apresentava a perspectiva mesclada das várias fases da história política da nação. "Comecei a aprender, diz Machado, a parte do presente que há no passado e vice-versa". Iam todos de carruagem: Zacarias, Monte-Alegre, Abrantes, Caxias, o Marquês de Itanhaém, o mais velho de todos. Este era seco e mirrado, arrastava os pés, usava cabeleira, trazia óculos fortes. Apresentava-se com a farda de senador nas sessões

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