Machado de Assis, o homem e a obra – Os personagens explicam o autor

solenes. A cara rapada acentuava-lhe a decrepitude.

Olinda e Euzébio usavam a barba em forma de colar. Havia uma como atmosfera familiar naquele Senado: brigavam, faziam as pazes e tornavam a brigar, como nas famílias.

O povo não se importava com o Senado, e só Nabuco gozava do privilégio de encher as galerias. A oratória discorria no geral calma, discreta ou fluente. Euzébio falava assim. Os senadores eram os cardeais e formavam o Consistório, na frase joco-séria de Otaviano. "Era a tarde da oligarquia, o crepúsculo do domínio conservador." Naquele meio não falta a nota alegre: - murmurava-se a respeito de amores vadios de Euzébio. "Ela era alta e robusta, a sua extremada beleza admirada nas ruas e nos salões." No ambiente marasmado Zacarias fazia explodir o sarcasmo pela presteza e vigor dos golpes. "Tinha a palavra cortante, fina e rápida, com uns efeitos guturais, que a tornavam mais penetrante e irritante." Natureza álgida, com o senso da destruição do adversário. Como amigo, era lhano, confiado e prestimoso. Sentava-se ao pé de Nabuco, com quem gostava de trocar impressões. Este era sempre o homem que conservava o acento das convicções mais altas. Pensador político, acima de pessoas e partidos, com a percuciência de prever o futuro, cheio da intuição dos acontecimentos, é o forjador realista e otimista dos projetos e soluções jurídicas de problemas da administração. Machado de Assis examina-o com o olho de esteta: "a palavra de Nabuco era modelada pelos oradores da tribuna liberal francesa". Apreciando-o, antecipou mesmo a opinião do filho, Joaquim Nabuco: "a minha impressão é que preparava os discursos, e a maneira por que os proferia realçava-lhes a matéria e a forma sólida e brilhante." Externamente,

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