Panorama do Segundo Império

UM REGIME SEM ALICERCES

O que mais espanta aos que estudam o colapso do império não é que ele tenha sido vítima de uma minoria, não é que ele tivesse sido derrocado por uma questão militar, aparentemente ligada ao simples fato de uma sucessão ministerial, não é que esse acontecimento tivesse se processado em horas, – mas que a transição se operasse pacífica, que ela não encontrasse no regime a findar um único sinal de resistência. Ante o traumatismo da queda e da subversão, o regime se dissolvia. Virava pó uma instituição quase secular. Semelhando aquelas figuras de Pompeia, conservadas pela cinza da erupção e que se esboroavam ao primeiro contato, o organismo político que, por quase 70 anos, conduzira os destinos do Brasil, se desfez. Ao primeiro embaraço, entregou-se. À primeira ameaça, desmoronou-se. Toda a máquina política e administrativa, na manhã de 15 de Novembro, desfaz-se e desaparece como que tragada por um cataclismo rápido e silencioso. O jogo fácil e sedutor dos partidos some-se. A sucessão dos homens nas boas graças, abisma-se no esquecimento. O revezamento de liberais e conservadores, cessa de acontecer. E uma minoria vaga, imprecisa, sem ideologia nítida, sem bandeira, sem princípios, sem tradição, sem força, sem poderes, sem nada, – assume a direção do país e dita as primeiras leis, entre as quais, – no arcabouço da constituição, – o símbolo da liberdade provincial, a federação.

Panorama do Segundo Império - Página 369 - Thumb Visualização
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