PREFÁCIO
Uma noite recebi em casa um jovem estudioso do Rio Grande do Sul, Ricardo Antônio Silva Seitenfus, que desejava conversar comigo sobre a tese que ia preparar, seguindo-se a do doutoramento. Era um moço de esplêndido aspecto físico, sadio, corado, forte, e logo ao começarmos nossa conversação senti que se tratava de um jovem competente, inquieto, inteligente, que buscava uma linha para sua tese, debatendo-a com os mais velhos e experimentados.
A tese devia ser sobre a política externa de Getúlio Vargas e suas consequências internas. Nesta época um aluno meu, Stanley Hilton, dedicava-se ao mesmo período e tema e buscava nas fontes alemãs os recursos documentais. Chamei-lhe a atenção sobre os estudos de Hilton, de grande sucesso no Brasil, originais, novos, verdadeiras contribuições aos estudos brasileiros, especialmente no campo da política externa - o mais pobre tema da historiografia brasileira - por influência da própria diplomacia brasileira, que fecha seus arquivos e não anima os estudos sobre sua ação, parte devido à formação portuguesa e a herança do sigilo, parte por temor da censura à execução contemporânea.
Logo me ocorreu a ideia de que este jovem bem preparado, inteligente, capaz - o que se percebe em cinco minutos de conversa -, que se ele ia preparar uma tese em Genebra, o que deveria fazer era estudar as fontes italianas e dar-nos uma visão das relações ítalo-brasileiras no período pré e durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
Viveria perto, não lhe faltaria tempo de contato direto com as fontes diretas e estava certo de que ele traria para os estudos de política internacional brasileira uma contribuição séria, original, num período de marasmo da historiografia diplomática brasileira.
Fez a tese, cujo diretor foi o Professor Yves Collart, e quando da defesa fui convidado para fazer parte da Banca Examinadora, mas declinei pelas obrigações que me prendiam ao Brasil.
Toda a parte desde os fundamentos da política externa brasileira,