A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850

núcleo mais atuante do movimento restaurador tomou o nome de Sociedade Militar.

A paisagem política sofrerá algumas mudanças a partir de 1834, o ano do Ato Adicional, mas o ano, também, da morte do antigo imperador, o que tira naturalmente qualquer sentido ao movimento restaurador. É certo que o "regresso", nascido pouco depois, e para o qual o regente Feijó, disfarçado embora pela capa da moderação, não passa de um sans-culotte, vai absorver boa parte dos caramurus, mas não é menos exato que ele deixa pouco lugar para uma posição de hostilidade aos grandes princípios nacionais. Todos sabem que os mentores do regressismo, convertido agora em Partido Conservador, e que se chamam Bernardo de Vasconcelos e Honório Hermeto, também foram homens do 7 de abril. Seja como for, já ninguém mais acreditava seriamente na perspectiva de algum 7 de abril às avessas, de sorte que o desaparecimento do antigo monarca pôde servir paradoxalmente à reação Monárquica em preparo, segundo notou um publicista da época, sem machucar aqueles irascíveis melindres de nacionalidade que em fins do Primeiro Reinado e nos primeiros tempos da Regência andaram na ordem do dia.

Para situar bem e melhor entender a nossa Guarda Nacional, isto é, a nossa primeira Guarda Nacional - porque outras houve durante a vida longa dessa corporação, ou antes dessa denominação, até ir desmanchar-se melancolicamente na "Briosa", que este século ainda conheceu, é preciso considerar que em 1831, o ano de seu nascimento, tudo levava a crer que seriam eternos e inexpugnáveis aqueles melindres brasileiros. Quando a professora Jeanne Berrance de Castro me convidou para orientador no concurso de doutoramento que devia realizar, tratamos de passar em revista primeiramente várias questões históricas mal sabidas ou inexploradas que permitissem a elaboração de uma tese original. Ao fixar-se no tema da milícia cívica ou milícia "cidadoa", como a nossa Guarda Nacional também foi chamada, não creio que ela tivesse bem em vista o clima de opinião dominante no país já durante a terceira década do século passado e que serve como de pano de fundo da instituição. Pensávamos, eu ao menos pensava, e foi minha afinal a sugestão aceita, entre outras que também fiz, num estudo que abarcasse principalmente as formas que assumiu durante o Império o mandonismo local com suas consequências que ainda perduram em grande parte. Seria, em suma, um estudo a mais, além dos muitos que já existem, dos setores rurais dominantes na paisagem social brasileira.

A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850 - Página 16 - Thumb Visualização
Formato
Texto