INTRODUÇÃO
Nenhum romancista estrangeiro exerceu, até hoje, maior influência no Brasil do que Eça de Queiroz. Durante sua vida, no fastígio da carreira literária, a consagração de seu nome, como escritor, atingiu proporções invulgares. Não foram poucos os intelectuais que correram a imitar-lhe o estilo, adotando seus padrões de linguagem, o barbarismo de sua prosa, os matizes de uma arte que, tornando mais vivo e mais dútil o idioma, imprimiram à literatura luso-brasileira, na época de superação do romantismo, um sentido de verdadeiro remoçamento.
As descobertas científicas, o progresso da técnica, as transformações nos sistemas econômicos e sociais, tudo aquilo que o século XIX desacorrentou do passado, abrindo ao mundo as extensas perspectivas que a revolução industrial estimulara, na reavaliação da vida e dos conceitos estéticos, encontrou em Eça de Queiroz o instrumento que iria moldar a arte à imagem das agitações do tempo.
Insurgindo-se contra o liberalismo burguês, não tratou de receitar panaceias, nem se aferrou à impertinência de dogmas. Como romancista social, fez o que lhe parecia mais lícito: denunciou a verdade, fustigando o arcabouço de um mundo que se retesara pelo acúmulo de erros e de vícios; inquietou-se diante das injustiças, disfarçando suas armas de inconformado no colorido da verve.
Artista para quem a arte devia ser a história do homem, não do homem subjugado pelos preconceitos,