particular, mostra-o constantemente eriçado contra detratores reais ou imaginários, e ciumento de glórias e gloríolas que não se achassem a seu alcance. Tão solícito quanto Southey em proclamar a perenidade de sua obra, não o faz com elegância, nem discrição: "ela viverá (a obra)", diz, "e fará eternamente honra ao Brasil e ao reinado de seu Excelso Protetor"... "grande serviço desta História", "grande serviço à nação"... Tais coisas são ditas ao imperador em carta onde fala do aparecimento do livro e onde anuncia, certamente porque assim o deseja, que Martius se propusera vertê-lo para o alemão, prelúdio de inúmeras outras traduções que já previa. Começa, na carta, por advertir D. Pedro contra os invejosos, que também pressentia, do universal aplauso ao livro, e termina com uma insinuação transparente: talvez, por alguma "graça espontânea" de Sua Majestade, teria, afinal, de abrasileirar o nome, "como aconteceu aos Brandt". E ainda quando não devesse ser extremamente difícil entender ou atender à solicitação, o monarca deixará passarem ainda vinte anos, ou quase, para fazê-lo barão e, depois, visconde (com grandeza) de Porto Seguro.
Para Varnhagen que, em resposta às críticas de d'Avezac, inscreve entre os seus títulos mais ilustres o ter sabido abrir caminho, em meio "ao verdadeiro caos" em que se achava a história de seu país, não seria cômodo ter de admitir que alguém de certo modo o tivesse precedido em tão subida empresa. À obra de Southey, que acabou de imprimir-se trinta e cinco anos antes de começar a impressão da sua, não cabe com certeza honra tamanha. Concorda quanto à importância dos trabalhos do "célebre Southey", mas não aceita que corresponda ao nome que recebeu. Aquilo positivamente não é história do Brasil, poderia intitular-se com mais verdade Memórias para escrever-se a História do Brasil e dos países do Prata, etc. E o que se lê em sua carta a d'Avezac e está repetido quase palavra por palavra na 1.ª edição da História Geral. Nesta vêm temperadas as graves reservas que faz ao inglês, com frases assim: "De Southey, injustiça de nossa parte e até ingratidão, fora não confessar, como Humboldt, que são preciosíssimos os três volumes que nos deixou, pelas muitas notícias que encerram, e das quais algumas não se encontram senão aí, e que praticamente tentamos por vezes indicar com várias remissões a essa obra". Na segunda edição, fica reduzido à terça parte, e menos, o comentário que lhe merece a obra de Southey, e é significativamente omitida a palavra "ingratidão" no passo onde tratava do alto preço dos seus três volumes, pois de outra forma não estaria