História das explorações científicas no Brasil

enquanto lhe tem o pau posto em cima fica o braço com que toma o pau adormecido e adormentado". Erradamente Rodolfo Garcia identifica o purá de Cardim ("que se parece com arraia") ao puraquê amazônico (do qual o jesuíta português não teve conhecimento) e que, como muito bem descreve Acuña é "a modo de uma enorme enguia ou, por melhor dizer, de um congro."

É do decênio seguinte a célebre expedição científica holandesa de Pies e Marcgrave, cujo histórico já resumidamente fizemos no capítulo anterior. Entregues a sábias mãos, por certo as anotações da tradução portuguesa da História Natural do Brasil de Marcgrave, sairão menos imperfeitas que os comentários até agora vindos a lume pelos nossos zoólogos. É de lamentar que

o escrúpulo piedoso de João de Laet (e um pouco a sua ignorância em coisas de ciências naturais) não tivesse escoimado a parte zoológica de tão notável trabalho de algumas lendas e abusões que aí encontram guarida, certamente por as ter encontrado o editor entre as notas esparsas do seu amigo, e incapaz de distinguir o que era a opinião do naturalista, do que não passava de uma achega com que ilustrasse a parte referente a lendas ou dizeres. Daí alguns outros absurdos como esse do beija-flor, com o bico espetado nos troncos das árvores, imóvel durante seis meses, até que volta a quadra da floração; ou a desse lagartinho azul "americim", estranho gourmet que Lusitani affirmant cupidum ex fugendi sanguinem ex gravidis mulieribus.

Na parte zoológica da obra de MarcGrave há a descrição de 368 animais brasileiros, sendo 46 mamíferos terrestres, 117 aves, 19 répteis e anfíbios, 131 peixes e crustáceos, e 55 artrópodes terrestres (insetos, miriápodes e aracnídeos). Como já era de prever, a parte referente aos invertebrados tem sido a menos versada pelos comentadores

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