De fato, logo no primeiro século, vemos os lavradores — como se depreende da carta de Duarte Coelho, em 1546 — exprimirem o seu desagrado pelos incômodos que lhes traziam os cortadores e traficantes do pau-brasil, perturbando-lhes, com a concorrência dos braços trabalhadores, a normalidade das explorações agrícolas. Esta interferência dos dois ciclos econômicos não pára no século primeiro; continua, ao invés disso, por todo o período colonial. Chega mesmo à época da Independência, queixando-se — como se vê do relatório de Alves Branco, em 1846, — os fazendeiros das dificuldades que tinham de explorar as suas terras, pois, cheias de florestas de pau-brasil, eram constantemente invadidas pelos que obtinham a concessão real para cortá-las. Prova ainda desta excepcional importância do pau-brasil em nossa história econômica e administrativa, é o fato de que, já depois da Independência, era com as rendas auferidas com a sua exportação para Londres, que ocorríamos ao pagamento das despesas feitas com o serviço da nossa dívida externa e com os nossos agentes no estrangeiro.
Em conclusão, depois das eruditas investigações do Dr. Bernardino de Souza, não é mais lícito falar-se de um ciclo do pau-brasil que, marcando a primeira fase da nossa história econômica, fosse sucedido logo depois pelo ciclo do açúcar. Os dois ciclos coexistem, como se patenteia dos dados da memória em exame, durante toda a nossa história colonial, não obstante desenvolverem-se ambos quase dentro da mesma área