emprestando uma beleza mais selvática e impressionante a um espetáculo natural tão encantador mesmo depois de três séculos da ação devastadora do homem. Martim Afonso de Souza — segundo reza a tradição — supôs que estivesse entrando na embocadura de um grande rio, rival do Orinoco e do Amazonas, e denominou-a Rio de Janeiro, pelo feliz mês de janeiro de 1531 em que fez a sua suposta descoberta. Seja qual fosse a origem desse engano, não deixou de ser aplicado não só à toda a vasta e confortável baía como também à província em que está ela situada e à populosa capital do Brasil, que se assenta como uma rainha sobre as suas luminosas praias.
Primeira visão dos Trópicos.
Todos nós sabemos, por experiência própria ou alheia, o que representa a vista da terra para os viajantes acossados pela tempestade. Quando o vasto círculo azul do céu e mar, que durante dias e semanas nos enclausura a vista, é afinal interrompido por uma faixa de terra — mesmo que essa seja desolada e árida como as montanhas de gelo das regiões árticas — domina-nos um vivo interesse que nos arrebata de encantos não sonhados. Qual, então, deve ser a emoção daquele que, chegando das latitudes de invernos tempestuosos, descortina em torno de si uma terra de perpétuo estio, com suas palmeiras de penachos altaneiros e sua gigantesca vegetação alcatifada de um verde imarcescível!
Em dezembro de 1851, quando o Hudson e o Potomac estavam enclausurados pelo rei-gelo, e nuvens e neves cobriam o céu e a terra, o nosso navio mantinha-se sobre um mar tempestuoso. Algumas poucas semanas de ondas tempestuosas e fortes rajadas, alternando com ventos brandos e calmarias, levaram-nos até Cabo Frio. Esse pico solitário ergue-se tão abruptamente como as escarpas calcáreas da Inglaterra, alto como o penedo de Gibraltar, mas coberto de vegetação até o topo. Nenhuma nuvem — como