Rebentam motins em numerosos lugares, - em Berlim, em Munique, no Ruhr, em Budapeste. A Índia desperta pela voz de Gandhi. Mussolini funda o Fáscio. Nas ciências, nas letras, nas artes, a renovação é geral. Rutherford desintegra o átomo. Descobrem-se, em Choukoutien, os primeiros vestígios do chamado "homem de Pequim", o que veio dar à antropologia novos rumos e perspectivas. Surgem pensadores da linhagem de Gide, de Spengler e de Freud. Constroem-se os primeiros arranha-céus. A pintura sofre o influxo de Gauguin, de Matisse, de Van Gogh, de Picasso, de Karfiol; a escultura o de Bourdelle, o de Epstein, o de Manship, o de Zorach, o de Maillol. É geral o desequilíbrio econômico, social e político. Senhora de Engenho, com a sua tranquilidade, com a sua ventura, com a sua calmaria, é que nada tem a ver com essa civilização em mudança.
Do autor de Senhora de Engenho, pode dizer-se o mesmo que Ronald de Carvalho disse do autor de Moreninha. Mário Sette, à maneira de Macedo, não amava os escândalos, nem os crimes sensacionais, sendo que a sua pena, bonacheirona e sossegada, tinha, pelo menos a esse tempo, o pudor de um pacato e devoto burguês. Senhora de Engenho foi feito, assim, à margem da vida e dos acontecimentos, num tom de sentimentalismo que já se achava inteiramente fora de toda a realidade e de toda a turbulência do final do primeiro quartel do século XX.
A que se deve, pois, o êxito de Senhora de Engenho, hoje já caminhando para a sétima edição? Gilberto Freyre acha que 75% desse êxito está no título, técnica também muito usada pelo próprio crítico (em matéria de títulos, Casa-Grande & Senzala ou Sobrado e Mocambos equivalem a Maxambombas e Maracatus ou a Anquinhas e Bernardas). O restante está no colorido da paisagem - isso que os ingleses chamam de local colour.