A primeira revolução social brasileira

ao que parece, essas medidas, porque, em 1764, o arcebispo Frei Manuel de Santa Inez clamava contra a indisciplina do Convento do Desterro, apontando-o, em 1786, ao Ministro Melo e Castro, como o mais "escandaloso da cidade". Era, entretanto, esse convento o preferido pela sociedade e nobreza da terra. Por sua vez, os frades, ainda é o mesmo prelado quem afirma em 1777, tinham, à exceção dos carmelitas e beneditinos, "vida pouco conforme aos votos, e por costume afastados dos seus conventos, morando em casa de parentes e amigos ou pelos engenhos".

O mundo profano refletia-se nas clausuras. Essa resistência, essa rebeldia às leis canônicas, esse desrespeito flagrante aos votos e à crença, eram miniaturas da vida secular dessa época dissoluta, onde tudo parecia desabar, apodrecido, pelo choque dos vícios e dos interesses.

Em volta de tudo e de todos, agitava-se uma multidão esperta de funcionários a farejar propinas que lhes aumentassem os salários, fosse lá por que meios. Peitavam-se os oficiais superiores, subornava-se a justiça. Transigia-se com o direito e com a verdade, como se se traficasse com qualquer cousa. O excesso de autoridade tornava a mais das vezes a ação pública confusa e imprecisa. As queixas iam surgindo. Descria-se da serenidade do governo; delatava-se.

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