esses restos fósseis tidos ou por meros "lusus naturoe" ou quando muito, por ossos de homens de estatura gigantesca. Os progressos da anatomia comparativa fizeram desvanecer pouco a pouco estes erros, mostrando que os presumidos ossos de gigantes eram restos de espécies extintas de grandes animais, pela mor parte estranhos ao clima atual da Europa, tais como Elefantes, Rinocerontes, Hipopótamos e outros. Depois de submetida a questão ao exame de autoridades competentes, não se verificou em caso nenhum a existência de verdadeiros antropólitos, ganhando assim de dia em dia terreno, e acabando por ser elevado à categoria de axioma a tese inversa, a saber: — que no meio de tantos restos, testemunhas de uma ordem de cousas passada e diferente da atual, não apareça vestígio nenhum que indique a existência do homem na terra, durante a época em que viviam grandes animais. Porém, na marcha flutuante do espírito humano, sempre exposto a erros, sempre inclinado a passar de um extremo para outro, parece ir-se verificando a profecia do poeta:
"Multa renascentur quœ jam cecidere cadentoque, quœ nunc sunt in honore".
Na verdade, a massa de documentos, que parecem conduz a uma conclusão contrária à já exposta, vai aumentando todos os dias, e não poucas das primeiras autoridades da ciência têm-se já inclinado diante da força irresistível dos fatos.
Neste estado de transição das ideias de um dogma para outro, aconteceu, o que ordinariamente acontece, que alguns espíritos mais ousados apressaram-se a levar adiante as novas ideias além dos limites razoavelmente marcados pelos primeiros fatos reformadores. Não contentes de fazer retroceder a origem do gênero humano até a época, em que viviam essas raças gigantescas