As duas "civilizações" desenvolveram-se num meio físico próprio, com fatores étnicos distintos, em condições sociais antagônicas. A escravidão, a fortuna agrícola, a propriedade, o comércio, o Estado e a religião deram àquele Brasil costeiro a sua fisionomia peculiar às colônias equinociais, com a separação das castas, a concentração urbana, a solidariedade rural, a imitação da Europa cujas ideias e modas as frotas nos traziam anualmente, em troco do açúcar, do tabaco e do algodão. Nos entrementes a dispersão sertaneja, o "desertão", a luta ao gentio, a "razia" contra as missões dos jesuítas espanhóis do Paraná-Uruguai-Paraguai, a miscigenação cariboca, a frugalidade das aldeias sertanejas, os seus hábitos guerreiros, a vida pastoril dos descampados, o distanciamento das famílias, a ausência das forças compressoras, a assimilação do índio, modelaram um tipo original de "brasileiro", que durante dois séculos manteve, nas suas "fazendas", uma independência desdenhosa em relação às influências estrangeiras. A aproximação entre os dois moradores, com a descida do "sertanejo", com a subida do "litorâneo", constituiu o epílogo da "era colonial".
Essa "era colonial" abrange, pois, as seguintes fases:
– A da exploração extrativa do litoral;
– a da penetração pacífica do interior;
– a da fixação agrícola da costa;
– a da substituição do jesuíta pelo mameluco no devassamento dos sertões;
– a da organização da sociedade colonial à beira-mar;