A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530-1626). História da formação da sociedade brasileira. Tomo 3º

instrumento de luta. Pelo contrário, ao surgirem estrangeiros nos ancoradouros mostravam-se os coloniais notavelmente unidos, num sítio em que existiam brancos, índios e pretos; católicos e judeus; senhores de engenhos e jornaleiros mesquinhos; funcionários leigos e eclesiásticos; mestiços turbulentos e reinóis ambiciosos. Acima, porém, de competições inevitáveis em semelhante colcha de retalhos, pairava a solidariedade que os unia graças a inquebrantável argamassa.

Depois da invasão holandesa deu-se profunda mudança, fenecendo o que em estágios anteriores vigorava. Complicavam-se problemas da população colonial através de variações da política externa das grandes potências ocidentais, a desviar diretrizes econômicas e financeiras com acentuadas alterações nos mercados, onde antigas mercadorias perdiam valor, e outras desprezadas ou dantes inexistentes, tornavam-se disputadas pelos consumidores. Desapareceram, outrossim, muitas caraterísticas sociais, substituídas por cambiantes que não mais permitiam fases singelas como as antigas, haja vista na hipertrofiada presença do Estado e sua contínua ingerência, na vida dos habitantes. Este foi o motivo que nos sugeriu o título de Idade de Ouro para a sucessão de acontecimentos até 1624, no qual o indivíduo atingia uma condição de quase anarquismo — no bom sentido da palavra — como adiante se evidenciará, preservando a sua individualidade e os seus anseios individualistas no meio e na sociedade em que vivia.

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