Alberto Sales, ideólogo da República

Ao leitor

A vulgarização das doutrinas democráticas foi sempre, para mim, uma das mais urgentes necessidades, como um trabalho preliminar indispensável para o advento definitivo do governo republicano, neste país.

Nunca pude acreditar que, sem este preparo essencial e necessário, se pudesse operar no espírito público uma modificação tão profunda que a permanência e estabilidade de semelhante regime governamental ficassem perfeitamente garantidas.

Ao contrário, sempre me pareceu que a grande obra da reforma, para produzir os seus verdadeiros efeitos, devia começar pela eliminação completa dos inúmeros preconceitos, que até o presente ainda atuam energicamente sobre o intelecto nacional, para só depois, por um impulso próprio e espontâneo, tomar a nação uma nova orientação política, já então determinada pela educação e fortalecida ainda mais pela energia do hábito.

Foi exatamente com esse único intuito que me abalancei ainda há pouco, apesar de minha própria incompetência, a reunir e enfeixar em um só corpo de doutrina todos os princípios da escola democrática, tais ao menos como vão sendo ensinados pelos mais notáveis publicistas dos tempos modernos. Foi esse o único pensamento que presidiu à publicação da República republicana. A maneira, porém, por que ali procurei efetuar uma tal condensação, evidentemente não foi a mais própria, para um país como este em que o espírito público, ao mesmo tempo que requer uma alimentação sólida e substancial, exige antes de tudo que seja de mui fácil assimilação.

Uma tal operação se torna sobretudo necessária na situação especial em que nos achamos presentemente, em que a versatilidade se tem tornado um dos mais gloriosos apanágios dos nossos homens públicos.

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