destes perfis esboçados com verdade, imparcialidade e indiferença pelos preconceitos de suspeita origem e falsas raízes. A bibliografia, a documentação inédita, o exaustivo testemunho estrangeiro, supriram aí a imaginação: não há romance, onde há realidade; apenas arte, onde força foi reanimar, entender as épocas mortas, para que os fantasmas do passado nos contassem os seus graves segredos...
"O Rei do Brasil" não sai, do nosso estudo, maior nem menor. Limitamo-nos a transformar a sua caricatura deplorável, tão popular nos dous mundos, numa fiel imagem do anafado, esperto e tribulado soberano, que reinou, até morrer, a despeito de Espanha e França, da mulher endiabrada e de Napoleão, das guerras, das revoluções e das conspiratas, por isso considerado um dos mais hábeis jogadores que outrora jogaram, no tabuleiro da Europa, destinos nacionais.
Se a impressão do leitor for de surpresa e dúvida, comparando este ao ridículo D. João VI do anedotário, deverá antes queixar-se da parcial e estreita história que por aí circula, tecida de maledicência fácil, burla e espírito. A esta, nada pedimos!
P. C.
Rio de Janeiro, janeiro de 1935.