Thomas Ender, pintor austríaco na corte de D.João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira,

A viagem efetuou-se quando na capital do Brasil começava a serenar o tumulto causado pela repentina chegada da corte portuguesa. Iniciara-se a fatalidade que proporciona benefícios à jovem América à custa dos males da velha Europa, começada a série nas guerras napoleônicas que erigiram a colônia em sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Em 1817 a população carioca chegara a cento e cinquenta mil almas, maior, portanto, que a de muitas capitais europeias, residente, para mais, em sítio cercado da fama de riquezas fabulosas. Esses tesouros, dantes ocultos pela metrópole a olhos cobiçosos, estavam colocados pela franquia dos portos à disposição de quem quisesse descobri-los. Tornara-se por esse motivo, o Rio, meta de aventureiros vindos de todo o mundo - traficantes de negros, mercadores ingleses, antigos lavradores de café de S. Domingos, émigres franceses, bonapartistas, artistas e cientistas, sábios, aventureiros e batoteiros - numa confusão jamais vista na cidade dantes modorrenta. Nas ruas encontravam-se estes recém-chegados com a inevitável fauna das cortes absolutas, em que se viam dançarinas, embaixadores providos de séquito teatral como o da Pérsia, e principalmente exemplares da fidalguia lisboeta, com os quais despendia o erário a mor parte dos réditos da monarquia.

Não se pagavam tropas em Portugal a fim de sustentar Duques e Marqueses, expulsavam-se brasileiros de suas casas para lhes dar moradia, extorquia-se dinheiro de ordens religiosas para lhes fornecer passadio. Havia, porém, coisa pior. Transportavam-se para o Brasil, na bagagem de bolorentas repartições, germes de perigosos conflitos

Thomas Ender, pintor austríaco na corte de D.João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira,  - Página 72 - Thumb Visualização
Formato
Texto