de mastros do porto em intensa atividade, sobre a qual se viam várias torres de igrejas entre o morro do Castelo coroado pela catedral jesuítica de S. Sebastião e o de S. Bento pelo mosteiro do mesmo nome defronte à ilha das Cobras. Outros morros mais para o interior aos poucos se mostravam, o da Conceição com o palácio do Bispo, que mais se assemelhava a mosteiro, o de Santo Antonio, com duas igrejas e convento, e muitos mais, que à distância, vistos do ancoradouro, conferiam majestosa impressão de capital digna de corte europeia.
Ao aportar, todavia, dos navios logo rodeados por canoas carregadas de laranjas, bananas, melancias, e escaleres de desembarque com toldos de cores vivas, enfeitados com cortinas, bambinelas e galões dourados no gênero dos que também ornavam as seges de aluguel cariocas, o entusiasmo dos visitantes, estivessem ou não preparados para o que iam ver, decrescia transmutado em decepção. Dava-se o mesmo que em Lisboa, deslumbrante num dia de sol, deparada da barra do Tejo, porém, miserável de perto, nas ruas sujas, ainda atravancadas pelas ruínas do grande terremoto, infestadas de maltrapilhos, pretos, cães e mendigos, a exibir escassa monumentalidade nos edifícios civis e eclesiásticos, junto de residências desgraciosas, mal construídas, pior acabadas, sendo necessária intervenção da dadivosa natureza compensadora dos erros dos homens, para amainar o desencanto causado pela sua imperfeição.
No Rio reproduzia-se o choque. A europeu nascido no século 18, proveniente de países frios, causava de início espanto, encontrar numa cidade dos trópicos multidão apenas vestida, descalça, sem sombreiro, quase nua, composta de criaturas moradoras em casebres mal defendidos da chuva e do vento. Não lhes acudia que a ausência de inverno e o calor tórrido fizessem das faltas mais vantagens que privação. Nos primeiros momentos aquilo lhes parecia monstruoso, verdadeira acúmulo de miséria e desventuras com aspetos desoladores, nos escravos que em toda parte enxameavam. Mais tarde, esses mesmos estrangeiros