PERFIL POLÍTICO DE SILVA JARDIM
HEITOR FERREIRA LIMA
A figura de Silva Jardim não era devidamente mencionada na história de nosso pensamento político.
No entanto, na campanha republicana, ele foi das personalidades mais ativas e desprendidas. Contam-se pelos dedos os trabalhos a ele dedicados como se verifica na bibliografia que ocorre neste volume.
As produções de Silva Jardim, além de suas Memórias e Viagens (Lisboa, 1891), estavam dispersas em numerosos opúsculos raros e desiguais. A primeira compilação de seus discursos, artigos e folhetos deve-se à Fundação Casa de Rui Barbosa, por iniciativa de Francisco de Assis Barbosa, precedendo uma série que compreende algumas dezenas de pensadores. O prefácio "denso e erudito", como diz o Autor, de autoria de Barbosa Lima Sobrinho, é uma das mais sérias contribuições para a compreensão do propagandista da República, "injustificada e inexplicavelmente marginalizado".
O Autor não pretende ter resolvido todos os problemas da complexa biografia de Silva Jardim. Alguns episódios políticos ou trágicos - como seu desaparecimento - serão certamente objeto de estudos posteriores.
Ferreira Lima já figura nesta coleção "Brasiliana" com algumas obras de ampla repercussão: a História político-econômica e industrial do Brasil e a História do pensamento econômico no Brasil, este já em 2ª edição. Fora desta coleção publicou várias obras notáveis.
Neste volume, após estudar a fase final da monarquia, examina as tergiversações do Partido Republicano até o 15 de Novembro. Só então passa a acompanhar a vida de Silva Jardim, desde seu nascimento na província fluminense até a sua adoção do positivismo e do ardente abolicionismo. O capítulo 4 é a suma da argumentação que Silva Jardim desenvolveu em Infatigável campanha, violenta, crua, enfrentando tribunos do porte de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. Várias vezes correu risco de vida e assistiu a deploráveis cenas de vandalismo. Nos últimos capítulos estuda-se o inesperado epílogo de um lutador indefeso.
Poucos propagandistas poderiam apresentar uma folha de serviços à causa republicana. Mas, uma vez Instaurado o novo regime, não consegue ter voz em nenhum setor do governo. Nem no ministério, nem na Assembleia Constituinte o seu nome merece acolhida. As cartas de Saldanha Marinho publicadas em apêndice à coletânea realizada pela Fundação Casa de Rui Barbosa abrem um véu à compreensão do mistério. O temperamento do orador eficientíssimo para a propaganda era temido para o exercício do governo e da construção do país. Retirando-se do cenário dos acontecimentos, Silva Jardim empreende uma viagem pelo velho mundo, para observar na prática o funcionamento dos sistemas políticos.
O final trágico da excursão ao Vesúvio encerra com uma página tétrica uma existência vulcânica.
A.J.L.