O precursor do abolicionismo no Brasil: Luís Gama

da religião católica, pela irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, acompanhando o esquife de um incréu; nem o protesto dos homens de cor, reclamando o direito de serem os únicos a carregar, a pulso, o corpo do inolvidável batalhador da causa dos escravos.

Luiz Gama morria numa apoteose. De miserável moleque, enjeitado e escravizado pelo próprio pai, ascendera, num esforço sobre-humano, de que há alguns outros exemplos, no Brasil, embora nenhum com o mesmo relevo nem com a mesma intensidade, e subira até essa completa consagração pública. Quarenta e dois anos de vida laboriosa, obstinada, tenaz, e da qual os primeiros tempos foram, sem a mínima hipérbole, infernais, tinham feito do humilde negrinho que galgara a pé a Serra do Cubatão, na escalada de Santos para São Paulo, a hercúlea envergadura do homem, ao mesmo tempo, mais amado e mais temido da Capital da Província bandeirante.

Tinha-o elevado a essas alturas a sua insaciável, a sua inextinguível, a sua indesalterável sede de justiça. Pode representar-se a vida inteira de Luiz Gama como duas mãos tendidas para o alto, no clamor incessante do respeito pelos direitos humanos.

E, entretanto, a esse homem desaparecido há pouco mais de meio século, ninguém se lembrou ainda de fazer-lhe, num estudo sereno e consciencioso, desapaixonado e neutral, aquela mesma elementar justiça por que ele tanto lutou até a morte.

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