tão bem-cultivado, no meio das montanhas ásperas e selvagens que o bordejam, tem qualquer coisa que surpreende e encanta; por aí pode-se ver o que o homem faria, nesse país, com maior indústria e mais esforços. O Padre Corrêa, que sabia valorizar a habitação de que acabo de dar sucinta descrição, gozava, no Rio de Janeiro, de grande reputação por seus conhecimentos de agricultura, e parece que ela era perfeitamente merecida. Aproveitou-se da temperatura moderada da Serra para cultivar grande número de plantas de origem caucásica ou europeia, e asseguraram-me que ganhava bastante dinheiro só com os cravos que mandava vender à vila. Na estação que atravessávamos, ele enviava — disseram-me — todas as semanas, para Porto da Estrela, uma tropa de burros carregada de pêssegos, e dizia-se que se vendiam no valor de dez mil cruzados. Este fato prova, diga-se de passagem, quanto a temperatura da Serra difere da do Rio de Janeiro, pois que os pessegueiros não frutificam nos jardins dessa cidade. Às seis horas da manhã, na planície, o termômetro de Réaumur indicara-me 23,5° apenas, e, ao meio-dia, caía em Tamarati na serra a 22,5° apenas.
Após ter passado a fazenda do Padre Corrêa, costeei uma imensa plantação de milho. Mais longe, na margem do rio, alguns negros estavam preparando a terra para o plantio dos feijões a serem colhidos em junho. Os que se plantam assim, de modo a se poder fazer a colheita no inverno dos trópicos, tomam o nome de feijões da seca.
Durante bastante tempo o caminho segue a margem direita do Piabanha; passa-se este rio sobre uma ponte pitoresca, e costeia-se a sua margem esquerda até o rancho assaz insignificante que chamam Sumidouro. Foi lá que eu parei no dia em que deixei Tamarati.