Rodrigues Alves - Tomo 2

Apogeu e declínio do presidencialismo

as estações havia gente que se amontoava para ver passar, pela última vez, o glorioso Presidente Rodrigues Alves. Desde as estações de subúrbio do Rio, até Guaratinguetá, a mesma cena se repetia. Nas cidades fluminenses e paulistas do Vale do Paraíba, o comboio que varava a madrugada suspendia a marcha, para que o morto recebesse o preito final de seus patrícios.

Só manhã clara, pelas cinco horas, ao fim de uma viagem que durara quase o dobro do tempo do percurso normal, o comboio entrou na estação de Guaratinguetá, repleta de povo. Ao mesmo tempo, tendo provavelmente, por comunicações telegráficas entre as estações, sincronizado os seus movimentos, entrava também em Guaratinguetá o trem vindo de São Paulo, que trazia o Presidente Altino Arantes, seus secretários, o arcebispo de São Paulo e muitos políticos e amigos.

Guaratinguetá estava de luto, as autoridades na estação, a população na rua, o comércio e as escolas fechados, as janelas das casas cerradas, as bandeiras arriadas, os sinos em dobres de tristeza.

O cortejo subiu a rua da estação, passou pela velha casa familiar, e continuou subindo até entrar na matriz. Ali o arcebispo de São Paulo disse a última missa em homenagem ao defunto. Depois foi o sepultamento, às oito e meia da manhã, no cemitério dos Passos. Após longa caminhada, o menino, filho de imigrante, que dali saíra para estudar no Rio, voltava transformado no maior homem de Estado que o país, até então, conhecera.

A nação, naquele momento, chorava o presidente que, no fim da vida, ela se habituara a ver como uma espécie de pai. A reminiscência patriarcal da nossa formação sociológica influía, sem dúvida, na origem daquele sentimento geral de orfandade, que irmanava a massa e a elite nas mesmas dúvidas e hesitações.

Em face de um mundo que renascia dos destroços do prussianismo e das incógnitas do marxismo, o Brasil ficou, de repente, sem um condutor capaz de guiá-lo no caminho a ser percorrido, e que pela sua experiência e sua autoridade, pudesse conservar a estrutura política tradicional, adaptando-a às contingências das novas realidades. Ficou sem a liderança do conservador progressista, que era Francisco de Paula Rodrigues Alves.

Rodrigues Alves - Tomo 2 - Página 864 - Thumb Visualização
Formato
Texto