Singularidades da França Antártica

explorador Cook, encontraram o pian nas tribos polinesianas. Smith, igualmente, observou a doença entre certas tribos dos mares do Sul, isentas ainda de contato com outros povos (Voyages aux isles de Java, Sumatra et dans celles de l'Archipel des Molusques, 1761).

Não se pode afirmar a inexistência do mal no continente africano antes do nosso período histórico. Mas D'Alibert, que dirigiu as suas pesquisas nesse sentido, chegou a dizer que a bouba não existia na África "antes dos séculos da Idade Média" (Dictionnaire des Sciences Médicales, vol. XVI, apud Levacher). Sem embargo, há indícios que levam à crença de que a bouba já infestava a faixa ocidental africana ao tempo das primeiras expedições portuguesas. Gomes d'Azurara (Crônica do Descobrimento da Guiné), que enriqueceu a botânica médica no séc. XV com subsídios valiosos, refere-se a certa planta africana com aplicação sobre a doença, cujos sinais coincidem com os da treponemose.

Os depoimentos sobre as conquistas castelhanas no séc. XVI enriquecem o documentario histórico da bouba na América. Nicolau Monardes, célebre médico sevilhano, mostrava, em 1565, como os indígenas americanos combatiam a doença (De Simplicibus Medicamentis ex-Occidentali India delatis, 2ª ed., Antuérpia, 1574). Fr. Bernardino de Sahagun, que viveu cinco lustros entre populações toltecas, divulgava, em 1569, a terapêutica mexicana primitiva, na sua Histoire Générale des choses de la Nouvelle Espagne (ed. de 1880). Francesco Hernández, médico do rei Phillipe e por este enviado ao México após a conquista, publicava, em 1575, a primeira narrativa espanhola do seu clássico Rerum Medicarum Novae Thesaurus, onde se acham indicados os medicamentos vegetais dos ameríndios contra as boubas. O padre Barnabé Cobo (História del Nuevo Mundo), Pedro Cieza e Antonio Herrera falam do emprego tradicional da salsaparrilha contra o mal no antigo Peru.

* * *

Não há dúvida de que as boubas eram também doença familiar às populações aborígenes do Brasil. Já as modernas pesquisas afastam de vez a hipótese de importação do mal.

Todas as crônicas da nossa primeira idade colonial aludem às boubas como doença particular ao gentio. Desde Thevet (1557) até Piso (1648), não se encontra entre os anotadores da nossa velha história qualquer referência tendente a explicar o exotismo da endemia. Ocupam-se dela, nesse período, entre outros, Jean de Léry, Pero Gandavo, Gabriel Soares, José de Anchieta, Brandônio, Yves d'Évreux, Vicente do Salvador Fernão Cardim. Mas só o médico

Singularidades da França Antártica - Página 474 - Thumb Visualização
Formato
Texto