O Brasil e os brasileiros: esboço histórico e descritivo v.2

com semelhante tráfico, estando alguns profissionais do Sul desse país convencidos de que a febre amarela, como os negros, foi importada da África.

As nossas mais longínquas informações a respeito dizem-nos que foi o padre Dutertre o primeiro autor que aludiu a esse "terrível flagelo das costas ardentes do Atlântico". Viu-o, em 1635, nas Antilhas, e afirma expressamente que antes dessa data ele era desconhecido nessas ilhas. Em 1647 invadiu Barbados. O padre Labat viu-o devastando a Martinica em 1649. A primeira vez que essa epidemia ocorreu em terras dos Estados Unidos foi em 1693, na cidade de Boston. Desde então passou a ser, desgraçadamente, por demais conhecida dos nossos antepassados em toda a costa atlântica.

No Brasil, apareceu pela primeira vez em dezembro de 1849, ou janeiro de 1850, tendo feito as suas maiores devastações nas províncias litorâneas em 1850. Mostrou-se particularmente violenta nas cidades do Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Pernambuco/Recife / escapou. Embora sérios, os seus efeitos foram exagerados pelas narrativas. Em todo o Império do Brasil, cuja população era superior a sete milhões de habitantes, houve apenas, causadas por essa epidemia de 1850, 14 mil mortes e, segundo os relatórios oficiais, não se contaram quatro mil óbitos por febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, que conta uma população de 300 mil habitantes. Os Drs. Paulo Cândido e Meireles/Paula Cândido e Meireles, que gosam do mais alto prestígio em sua classe, corroboram esses dados. O Dr. Lallemant, eminente profissional alemão de vasta clínica no Rio, parece-nos exagerar o número de casos e de óbitos: dá cem mil casos de febre amarela com dez mil fatais — algarismos que parecem estar em desacordo com os fornecidos por outras fontes igualmente merecedoras de fé. Porém admitindo mesmo os algarismos do Dr. Lallemant, pode-se verificar quanto a mortalidade foi menor do que em Nova Orleans, cidade que conta um terço da população do Rio, e na qual, em agosto de 1853, 5.269 morreram de febre amarela. E ainda se considera a capital do Brasil como o lugar mais insalubre do mundo! De acordo com o Dr. Lallemant, morreram 475 pessoas no Rio em 1851; 1.943, em 1852; 853, em 1853, e apenas quatro em 1854. Em 1857, somente algumas dezenas de casos se deram, cujo número exato não temos em mão.

Em 1854, a doença havia completamente desaparecido apenas surgiram alguns casos nos princípios de 1857, que cessaram no mês de março do mesmo ano.

Pouco se duvida que a causa da febre amarela seja peculiar e específica. Grandes divergências, porém, existem sobre a natureza dessa causa. Alguns a consideram um ser microscópico,

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