Ciclo do carro de bois no Brasil

necessidade de carros para transporte de passageiros. Só muitos anos depois é que os jesuítas construíram um guindaste, que os levava até o alto onde tinham o seu colégio. Depois que a várzea de N. S. do Ó, que é hoje onde está a rua Primeiro de Março, começou a ser aterrada, é que as necessidades criaram o carro de bois, que tanto servia para carregar materiais, como para transportar passageiros que vinham dos sítios próximos ou que iam de um a outro lado da cidade."

E NORONHA SANTOS, em seu magnífico livro Meios de Transporte (1934), à pág. 31 do 1.º volume, diz: "Antes da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, o que ocorreu em 8 de março de 1808, o transporte de passageiros e cargas constituía um dos problemas que mais afligiam a vida social da Capitania. As viagens eram penosas e, por isto mesmo, pouco frequentes. Afora cadeirinhas, palanquins e liteiras, de propriedade particular e só empregadas numa pequena área da cidade, outros eram os meios de condução. Usavam-se os carros de bois e as cavalgaduras. Os viajantes do interior fluminense e os de Minas Gerais e São Paulo iam, ordinariamente, para as vilas aquém ou acima das serras, em carros de bois — adrede preparados com cobertura de esteiras ou de lona — e em bestas ou cavalos de aluguel."

O fato repetia-se em todos os agrupamentos humanos que se fundaram e desenvolveram nas terras do Brasil, continuando a verificar-se até muitos anos depois da Independência. No sul e no norte gravuras antigas mostram o carro de bois adaptado ao transporte individual ou coletivo de passageiros para novos estabelecimentos, em passeios ou visitas, em festas religiosas ou profanas, em mudanças ou migrações. Neste último aspecto, não é para esquecer a página evocativa de BERNARDO GUIMARÃES no O Ermitão do Muquém, quando fala da caravana do mestre Mateus que, em carro de bois, palmilhou a estrada do Muquém, no Brasil central: "pesado carro rodeado de esteira de taquara e toldado de couro, que por espaço de dois meses lhes tinha de servir ao mesmo tempo de habitação e de veículo por aquelas desertas regiões", "casas ambulantes que muitas vezes vão transpondo para grandes distâncias famílias emigrantes com todos os seus haveres, seus móveis, animais e aves domésticas."

Este transporte era usado até para pessoas de alta categoria: CRAVEIRO COSTA relembra em seu livro Maceió (1939) que o primeiro Governador da Capitania de Alagoas, criada por ato de 16 de setembro de 1817, desembarcara no porto de Maceió (Jaraguá) a 27 de dezembro de 1818, transportando-se à vila em carro de bois. A propósito, Carlos Pedrosa, em o n.° 10 da revista Cultura Política (1940), escreveu: "Abramos aqui um parêntese para demonstrar a importância do carro de bois como meio de transporte, não de carga, como ainda hoje é usado largamente no interior do Brasil, mas de pessoas, ou melhor, de fidalgos. Quando o muito poderoso

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