Ciclo do carro de bois no Brasil

A tolda e os anteparos laterais servem para evitar o sol ou a chuva; o forro para amaciar o leito da mesa; os assentos — bancos, tamboretes, cadeiras, colchões — para maior comodidade dos viajantes.

Salvo minúcias locais estes acessórios são mais ou menos semelhantes em todo o país.

A tolda, de regra em forma de abóbada, é armada sobre arcos feitos com varas flexíveis ou cipós(9) Nota do Autor, que se amarram nas extremidades superiores dos fueiros, estendendo-se sobre eles ora esteiras de periperi, de taquara, de carnaúba, de tabua ou outros tecidos vegetais(10) Nota do Autor, ora folhas de palmeiras, ora couros crus de boi(11) Nota do Autor, preferidos estes no tempo das chuvas, ora lonas, encerados, panos grossos. No Nordeste, sobretudo em Pernambuco, era costume dos senhores das "Casas-Grandes" recobrirem a tolda com colchas ou cobertas de cores várias e vistosas. As toldas brancas de algodãozinho da Bahia eram de uso em algumas regiões nordestinas. Irineu Pinheiro, em seus estudos sobre a zona caririense, relembra a tolda do carro que conduzia o Cel. Raimundo Ferreira Lobo; Manuel Rodrigues de Melo, da Várzea do Açu, a que João Rodrigues Ferreira de Melo mandara fazer para esticar sobre os arcos de mofumbo do carro que transportava a família para as festas e visitas.

Os resguardos laterais, também presos aos fueiros, são em geral esteiras de periperi ou outro vegetal, não raro, panos, lonas, encerados e couros. À frente do estrado propriamente dito põe-se quase sempre uma coberta ou colcha desdobrada para evitar o sol ou a chuva e a penetração do pó levantado pela andadura dos animais.

Para abrandar a aspereza do leito da mesa, onde, não raro, vão sentadas as pessoas que viajam, principalmente as mulheres, forram-no de esteira ou então de colchões, por sua vez recobertos por um lençol ou colcha. Outras vezes se colocam em cima do estrado assentos presos aos fueiros, como sejam bancos, tamboretes, caixotes, cadeiras comuns ou de vime, etc. Certa feita, testemunhamos curiosa adaptação neste particular. Desejando que minha família passasse alguns dias de férias na fazenda Rio Azul, de propriedade de meu cunhado Cel. Témistocles Alves Leal Amor, sita no município de Barracão (hoje Rio Real), na Bahia, surgiu a dificuldade do transporte de minha senhora que não sabia montar a cavalo. A fazenda distava cerca de quatro léguas dos trilhos da ferrovia. A solução seria o carro de bois. Adaptou-se-lhe então ao centro da mesa uma confortável cadeira de vime, na qual foi feita a viagem sem maior incômodo.

Há que ressaltar certas particularidades dos carros de bois quando destinados ao transporte de pessoas.

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