Ciclo do carro de bois no Brasil

pouco versado no Brasil: há, pois, que respigar aqui ou ali estas manifestações de alegria dos nossos lavradores nesta ou naquela quadra de sua lida campestre. Ainda neste passo é para notar-se o que escreveu MELO MORAIS FILHO: depois de afirmar que "no norte e no sul do Brasil, as festas do trabalho, os jubileus da lavoura, tinham sobre a fronte grinaldas frescas e odoríferas, enramadas ao gosto dos estilos selvagens", descreve num capítulo, entre págs. 227 e 290, a "Festa da moagem" na província do Rio de Janeiro. Nessa vivaz descrição aparecem certamente os carros de bois, tão solidários com a indústria canavieira. "A um momento inesperado, a música da vila tocava ao longe, assomando em um carro de bois, todo enfeitado de flores e ramagens, trazendo o guia o chapéu circulado de flores do mato, lindas e vistosas". "E a música descia... e de um dos carros cobertos de colchas de chita, que se encaminhavam após, apeava-se o folgazão e nédio vigário..."

Nas terras do nordeste, em festas semelhantes, os carros que trazem aos picadeiros dos engenhos ou fábricas, as primeiras carradas de canas, vêm enfeitados com os próprios verdes colmos, ao jeito de bandeiras festivas. JOSÉ WANDERLEY PINHO descreve em tintas vivas a festa da botada dos engenhos na zona do recôncavo da Bahia, à pág. 117 do seu belo livro Cotegipe e seu tempo: "negros carreiros que vêm vindo empertigados, orgulhosos, no tabuleiro dos carros carregados, a encostar nos picadeiros, gritando ôas aos pobres bois de coice, picados com furor pelos ferrões das longas varas." Cita WANDERLEY PINHO os versos do Dr. JOSÉ FERRARI no seu poema Engenheida (1853 — Bahia), nos quais lembra as curiosas festas do início da moagem:

"Há muito que insones os carreiros

Ao picadeiro vêm carreando as canas

Que no campo desde ontem se ceifaram..."

Assim é em todas as festas rurais, em todas as comemorações campestres: o carro de bois é elemento de toda a vida da lavoura brasileira.

d)

Não havia de ser estranho o carro de bois nas festas domésticas das gentes do interior.

Em casamentos, batizados, aniversários, festividades que tanto importam à sociabilidade dos povos do sertão, testemunha-se sempre a presença do carro empregado no transporte das pessoas que acorrem a essas comemorações familiares.

MELO MORAIS FILHO, no mesmo livro que o grande SILVIO ROMERO disse "viver nele a grande alma do Brasil, cantar e folgar ou gemer e chorar este misto de entusiasmo e melancolia, de saudade e intrepidez, que é o gênio lusitano transfigurado na América", falando

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