Vultos e episódios do Brasil

passado despercebida se um dos seus ilustres protagonistas não a descrevesse, depois.

Ao terminar de um desses pleitos votados à imortalidade pela sua intervenção, Ruy Barbosa, já em pleno fastígio do seu nome, acercou-se do Ministro Pisa e Almeida e, tomando-lhe da mão, que ele modestamente procurava esquivar, beijou-a comovido.

Todos que conheceram a timidez de Ruy Barbosa imaginam quão grande não era sua emoção para ter o ousio desse gesto. Não estranheis que lhe chame de tímido. Al não era. Aquele coração que, nos grandes momentos da tribuna, ora parecia um látego de estrelas, ora uma jaula de leões que sacudissem jubas e rugissem cóleras sagradas, era habitualmente a harpa eólia da modéstia, da doçura e do retraimento.

Mas não encontrou outro gesto para resgatar a gratidão do direito desempenhado, por um voto, então vencido, mas depois triunfante e criando escola. E venceu a timidez.

Mestre da palavra, emudeceu. Quis ser eloquente, calou. Quis que o coração falasse: beijou a mão de Pisa e Almeida. É assim que as harmonias da criação falam ao Senhor de todas as coisas a linguagem do silêncio: o dia, nascendo no berço de rosas da aurora; a noite, recolhida no véu constelado do seu mistério; os mares, ondulando na grandeza oscilante das suas bacias; os céus, estremecendo no sorriso inefável das suas promessas.

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