na adoração. Medirá o seu carinho pelas vicissitudes da sorte de uma e de outra. Não pode outorgar o pomo a Martha, dizendo: "És a mais bela!" Mas deve conferir a palma do martírio a Maria, reconhecendo: "És a que sofre!" Se uma é escrava, fechará os olhos à coroa de rainha da outra. Mas, quando qualquer das duas cingir uma coroa de espinhos, passar-lhes-á uma esponja na fronte ensanguentada afirmando:
- "Meu carinho é só teu, e todo teu enquanto sofreres!"
Preterir assim, esquecendo os que de nós não precisam, os de que talvez precisemos, não é preterir. É dar aos que parecem preteridos um motivo, talvez único, de nós se orgulharem. É nos mostrarmos dignos deles. É dar-lhes a garantia do que lhes seríamos, se os papéis se invertessem, se os amarrados amanhã ao tórculo do sofrimento fossem eles. Não é infiel ao feliz o que só o olvida no momento em que dá todo o seu carinho ao que sofre. Não faz senão obedecer ao exemplo das mães, que, à cabeceira do filho que está doente, chegam a esquecer os demais. Não faz senão seguir o preceito mais alto da justiça: tratar desigualmente os desiguais. Nasce das raízes mais profundas das consciências, sobre que não passaram em vão os 20 séculos de cristianismo, os 20 séculos de civilização que, para firmar que o sacrifício é a mais alta das hierarquias, ergueram sobre o Golgotha o madeiro do Crucificado.