Vultos e episódios do Brasil

O amor ao berço adotivo não pode existir em quem ignore, desame ou repudie o berço natalício. Com que lealdade poderia amar a terra que o agasalhou com extremos de mãe, quem, renegando a terra onde nasceu e a que o ligam todos os laços divinos e humanos, já está demonstrando que lealdade não tem?

Quem não é bom filho não presta; dos maus filhos é que se fazem os maus amigos, observa o instinto popular, que não falha. Nessas transplantações interestaduais tão frequentes em todas as nossas famílias, a terra do agasalho não tem outro critério para avaliar do quilate do filho adotivo. Mau filho de outra, mau filho seu será.

Ao coração leal não há que exigir a opção de primazia entre os dois berços. Bom filho ali, na terra onde nasceu, bom filho continuará aqui, na terra que o adotou. Esta sabe que não se muda de terra como não se muda de mãe. Aquela que não se muda de coração, como não se muda de eu. Cada uma contente-se com o quinhão que o destino lhe reservou. Nem Martha reclama o que é de Maria, nem Maria o que é de Martha.

A malícia das curiosidades que querem espiar pelo buraco da fechadura das almas, e criar casos de consciência onde não os pode haver, não tem o senso das delicadezas morais. Ignora tudo quanto se pode amar igualmente, todas as coisas santas que se devem confundir no calor do mesmo estremecimento. Ignora a sensação de sacrilégio, que impede

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