A CLOACA MÁXIMA
Tudo isso, toda essa gente, esse mundo todo vive atascado num largo vazadouro, num fundo lodoso como o dessa enseada ridentíssima de Botafogo, espelho de jardins e céus azulados, no leito do qual, há, talvez, mais do meio século, se vêm acamando, estratos sobre estratos, as fezes da cidade, cujas exalações perfumam, de quando em quando, o Éden circunvizinho. Esse lodaçal, velado aos olhos por uma deliciosa bacia sinuosa na qual se nos embevece a fantasia, e o estrangeiro vai admirar os milagres da nossa natureza, não suspeitando as malignidades que o homem aqui esconde e acumula debaixo do manto estrelado e cambiante da feiticeira, esse invisível laboratório de podridão, criado pelas nossas administrações nas funduras do mar, à beira do povoado, e encoberto por uma superfície argentina,