Diretrizes de Rui Barbosa

que se haja demorado tanto. É a justiça da nossa época a si mesma. Pelo hábito de preterir a tudo, não acabe ela, enfim, destarte, preterindo-se a si própria.

O MENTIROSO E O LADRÃO

Os antigos enxergavam no mentiroso o mais vil dos tarados morais. Depois de enumerar todas as misérias de um perdido, concluíam quando cabia: "E até mente". Entre dois ladrões crucificaram os judeus a Jesus; porque não ousaram excruciá-lo entre dois burlões. O ladrão prostitue, com o roubo, as suas mãos. O mentiroso, com a mentira, a própria boca, a sua palavra e a sua consciência. O ladrão ofende o próximo nos bens de fortuna. O mentiroso, não é no patrimônio, é na honra, na liberdade, na própria vida. Tanto vai do latrocínio à calúnia. Do ladrão nos livra a tranca, o apito, a guarda. Do mentiroso nada nos livra: porque o enredo, a invencionice, a detração, volatilizados no ar, ou temperados com os condimentos do jornalismo, são impalpáveis como os germes das grandes epidemias. Nem o ladrão despoja senão aos que possuem.

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