III
O imperador escravocrata
Precisamos estudar o grande argumento de Berges, que tanto mal nos fez: o de que o Imperador era escravocrata. Com as suas aparências de verdade, difíceis de discriminar mesmo entre brasileiros, nada nos alienou maior número de simpatias do que essa alegação, com tanto empenho vulgarizada pelo ouro paraguaio.
O chefe de um Estado só é responsável pelas instituições que encontra ao assumir o Governo na medida em que contribui para consolidá-las e defendê-las. Se as combate, seja qual for o resultado da luta, varre a sua testada e escoima-se da pecha de conivência e solidariedade. Não basta portanto inchar as bochechas e afirmar que D. Pedro II foi escravocrata, pela evidente razão de que o Brasil do seu reinado o era. É preciso algo mais: provar que legitimou, defendeu ou tolerou o cativeiro. Tal prova nunca se fará. Fatos e documentos decisivos, cada vez mais numerosos, provam exatamente o contrário. Hoje já se pode afirmar sem rodeios que D. Pedro II merece um grande lugar na história da Abolição.