Cotegipe e seu tempo. 1ª fase: 1815-1867

A um amigo abria o coração e soluçava "... no dia 26 do mês transacto deu ela alma ao criador, deixando-me três orfãos, o mais velho dos quais conta cinco anos! O estado em que fiquei não é fácil de descrever-se; avalia-o tu que tens uma esposa virtuosa e filhos. O resto dos dias que tenho a viver será de luto e dolorosa saudade, e bem pouco se me daria, que eles fossem poucos, se não fossem os sagrados deveres que tenho a cumprir para com uma memória adorada. Os filhos, os filhos, eis o que me há de dar forças e algum conforto. Ainda atordoado por tão rude golpe, conservo-me em completa apatia, sem saber como entre em nova existência, difícil para quem chega a minha idade, e havia lançado âncora no porto, donde o veio arrancar ó tufão da desgraça!...

"Dois anos e três meses de luta incessante não puderam salvar a mãe de meus filhos. Lastima-me porque sou infeliz, e infeliz no último quartel da vida. Se não fosse o estado da minha casa abandonada em todo esse longo período, eu já não estaria por aqui; mas não há remédio senão suportar a presença dos lugares que me trazem pungentes recordações... Adeus meu caro compadre. Os céus te preservem de iguais dissabores, dando-te a felicidade que te desejo" (carta a Penedo, 7 de agosto de 1864).

"Meu Moreira, cada dia que passa aviva o sofrimento da perda que sofri! Quando considero que posso viver assim ainda alguns anos, maior é meu pesar. Se, porém, viver é diferente de existir, posso dizer que existo e nada mais! Chamo em meu socorro a razão e começo quanto ela é fraca para tais golpes. Não me envergonho de minha fraqueza, principalmente perante um amigo como tu. Hoje tenho abertas todas as feridas, é o meu aniversário e o do meu casamento! Imagina o que estarei sofrendo ao escrever-te!..."

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