Cotegipe e seu tempo. 1ª fase: 1815-1867

Uma biografia a Ludwig, a Zweig ou a Maurois não tem deveres senão com parte da verdade. Estes escritores escolhem, na realidade dispersa em trabalhos anteriores e nos documentos e fontes a que recorrem, os trechos, as cenas, os aspectos, as épocas que lhes interessam à emoção, ao gosto literário, à concepção particular com que focalizam o personagem ou o drama histórico. A preocupação estética e a curiosidade das hipóteses psicológicas sobrepujam, senão a exatidão, a inteireza da narrativa. E muitas vezes a inveracidade abusa da verossimilhança.

No Brasil o biógrafo político há de ser, ao contrário, exaustivo e completo, ou seria mentiroso por omissão, desonesto por exclusão.

As numerosas obras relativas a Disraeli, catalogadas na que sobre o estadista inglês escreveu Maurois, seriam chamadas a responder pelas frações da realidade desprezada, em qualquer processo que a curiosidade justiceira instaurasse aquele autor, acusando-o de mutilador dos fatos. O biógrafo brasileiro, manejando assunto inédito, terá, por ora, que esculpir a estátua completa: dos pés de barro ao resplendor de ouro. Não será o virtuose que interpreta uma antiga partitura conhecida; mas o maestro que executa uma composição inteiramente nova. Nada de pessoal no regente — que nem substituirá tons, nem modificará compassos, nem riscará frases, nem alterará acordes — mas lerá a pauta tal qual. E toda.

A vida de Cotegipe é uma estátua por levantar ou uma sinfonia ainda não escutada. Outros tirarão um dia, da

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