meios de publicidade, cada vez mais escassos nesta terra de faustosas liberdades teóricas para toda palavra livre e desinteressada, o meu depoimento de testemunha e de parte ativa na história deste período virá completo a público nas páginas de um livro que entra no meu programa de trabalhos e que terá por título Uma vida pública.
APELO
Enquanto o não publico e enquanto o apelo que lancei ultimamente aos dirigentes da nossa política, para a discussão plena e minuciosa, não das teses jurídicas, econômicas e administrativas que por aí se debatem nestas eternas polêmicas de estudantes em que se dispersam as correntes da nossa inteligência, sem maturidade mental e sem critério de aplicação, mas dos problemas da nossa terra e das soluções políticas que eles pedem, e enquanto o desafio que não há ainda muito tempo lancei também por provocar o confronto das minhas palavras e dos meus atos de político e de administrador com os de qualquer outro, na Monarquia e na República, não encontrar o paladino leal que os atenda, tenho, no momento, a pedir aos donos do poder e do fastígio neste momento, que me deem tréguas por enquanto, em atenção ao estado muito precário da minha saúde, poupando-me a sensação de náusea e desgosto por essa espécie de esgrima italiana em uso nos hábitos de reclame dos políticos ativos, que consiste em fazer proclamar e anunciar seus méritos e talentos, apoderando-se de ideias alheias, ao passo que dão aos outros, por inferência necessária da alegação de seus gloriosos, ainda que tardios, feitos, a posição de culpados pelos males que eles justamente procuraram prevenir.
Esta página, talvez a última escrita por Alberto Torres, é datada de 30 de dezembro de 1916 e vale um retrato moral.