Não, foi alguém que viveu, que sofreu, que vibrou, e cuja obra está impregnada da sua humanidade palpitante e rica.
Não foi apenas um esteta — mas um homem. E o maior valor da sua obra reside no fato de ter sido uma experiência, um modo de interrogar a vida. Interrogação que ficou sem resposta porque não ousou — ou não pôde — ir até o fundo dos problemas. Ou talvez porque tais perguntas não possam mesmo ser satisfeitas pelo engenho humano...
E para esconder a sua incapacidade — ou a sua decepção — ele preferiu sorrir, ficar de lado, com um ar de espectador desinteressado.
Atitude que lhe há de ter parecido a mais digna, mas que se assemelha terrivelmente a uma confissão de fraqueza. Atitude de demissionário mas não de quem se manteve na superfície das cousas. Talvez justamente por ter, um momento, pressentido a realidade trágica da vida é que tenha voltado o rosto, horrorizado do que via. Mas não o voltou tão depressa que não o marcasse para sempre essa visão de um segundo, deixando na sua obra, sob as aparências do ceticismo risonho, um travo amargo de desengano.
Há um gosto de cinza nos seus livros, as cinzas da inanidade de tudo, mas há também o sal das lágrimas e do sangue, o sangue do homem sofredor, as lágrimas do desespero que se sabe inútil.