universo indiferente, mas ecoa no aconchego de uma sala bem abrigada, fechada às intempéries.
Não é a calma sonolenta do Esaú e Jacob, mas uma tranquilidade por assim dizer ativa, feita de enternecimento e compreensão.
Alguns quadros de vida doméstica passam diante de um observador que se comove com a simplicidade da gente e dos hábitos. Esse observador já vira muita cousa, já experimentara a vertigem dos abismos do nada, e por isso mesmo sente melhor o valor das criaturas singelas e puras, a doçura do contato das almas que sabem se contentar em ser boas.
A ânsia de conhecer, o orgulho do pensamento — o pecado de Lúcifer — já não atormentava o velho artista. Agora, uma grande conformidade lhe vinha e lhe revelava, na última hora, um dos segredos da vida: a aceitação, a humildade do coração.
E por isso esse livro de velhice tem um inconfundível acento de poesia, uma frescura orvalhada, um som claro de cristal.