Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

universo indiferente, mas ecoa no aconchego de uma sala bem abrigada, fechada às intempéries.

Não é a calma sonolenta do Esaú e Jacob, mas uma tranquilidade por assim dizer ativa, feita de enternecimento e compreensão.

Alguns quadros de vida doméstica passam diante de um observador que se comove com a simplicidade da gente e dos hábitos. Esse observador já vira muita cousa, já experimentara a vertigem dos abismos do nada, e por isso mesmo sente melhor o valor das criaturas singelas e puras, a doçura do contato das almas que sabem se contentar em ser boas.

A ânsia de conhecer, o orgulho do pensamento — o pecado de Lúcifer — já não atormentava o velho artista. Agora, uma grande conformidade lhe vinha e lhe revelava, na última hora, um dos segredos da vida: a aceitação, a humildade do coração.

E por isso esse livro de velhice tem um inconfundível acento de poesia, uma frescura orvalhada, um som claro de cristal.

Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico - Página 327 - Thumb Visualização
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