Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

familiar das nossas avós e das nossas mães. Os seus políticos, os seus bilontras, os seus parasitas, os seus jornalistas, ainda hoje os encontramos. Só as moças não reconhecemos, porque as mulheres se modificaram muito, do tempo de Machado para o nosso, com o americanismo perturbando tudo. Mas a boa tradição não estará com ele, com as suas heroínas tão sedutoramente mulheres, tão presas à sua feminilidade?

Mais ainda, porém, do que as criaturas, o ambiente dos seus livros é carioca. Não sei por que artes, sem quase fazer descrições, ele põe nas suas páginas alguma cousa que não é a evocação do Rio, porque é mais do que isso, é o próprio Rio. Quantas vezes, passando por alguma rua de arrabalde, daquelas que ainda têm chalés com jasmineiros nas varandas, ou ouvindo o grito de um vendedor ambulante, o leitor que tem o hábito de Machado de Assis sente uma impressão de já ter visto aquela rua, de já ter ouvido aquela voz. E se lembra logo de uma página do mestre, da casa da velha Valéria, de uma frase do Conselheiro Aires. A alma do Rio habita os contos e os romances de Machado de Assis, é tão viva neles que, para cada um de nós, os seus livros parecem sempre se passar nos lugares com que nos familiarizamos. A despeito das transformações sociais e topográficas, dos aterros, dos arrasamentos, dos hábitos novos, a cidade conserva, no que tem de especificamente seu, no ar, na luz, na familiaridade um

Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico - Página 344 - Thumb Visualização
Formato
Texto