Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

tanto abandonada do seu povo, na sua necessidade de comunicação, na sua malícia sem maldade, uma feição característica que ninguém soube fixar como Machado de Assis.

"Eu sou um peco fruto da capital, onde nasci, vivo e creio que hei de morrer", escreveu ele uma vez a José Veríssimo. E, na verdade, embora em qualquer parte houvesse sido grande escritor, só vivendo no Rio poderia ter sido exatamente o que foi, tanto a sua sensibilidade se impregnou do ambiente da cidade.

Mais uma vez, no grande mestre, vemos confirmada a importância do regionalismo na formação do artista. Não o regionalismo como preocupação de cor local, mas a influência de sentir profundamente a vida num meio limitado, para poder fixá-la, de se deixar penetrar por todos os poros, quase instintivamente pelo ambiente próximo, de assimilá-lo para depois poder distinguir o elemento humano do local, e se elevar do particular ao geral. Não o regionalismo do espírito, mas o da sensibilidade.

Foi o que fez Machado de Assis e os seus tipos são a um tempo cariocas e humanos, diferenciados e universais, num raro equilíbrio entre o caráter contingente e o eterno. Dentro do ambiente carioca, tendo-o como meio e não como fim, procurou os conflitos psicológicos, os dramas da vida interior nos quais o homem de todas as latitudes revela uma grande identidade.

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